sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Liberdade: estamos livres dos estereótipos políticos também?"

Nesta semana, participei do XXIV Fórum da Liberdade que abordou o tema: "Liberdade na Era Digital". Com esta proposta, acreditei se tratar de um tema atualíssimo. Resolvi conferir os dois dias de palestra que contavam com grandes participações, tais como Marcelo Tas, Peninha e Lobão. 
Não obstante a ótima qualidade dos palestrantes, um fato causou-me estarrecimento! Conforme publiquei no Twitter: "Um tipo de anarquismo fundamentalista de direita rolou solto este ano no #FL2011" (Maurício Esteves). Como estudante de Direito, estou acostumado com discussões, tanto em sala de aula, quanto em grupos de pesquisa e estudos, congressos e palestras, que abordam o tema dos Direitos Fundamentais. Na história da efetivação dos Direitos Fundamentais, atualmente, discute-se os de terceira geração, quiçá quarta ou quinta geração. Mas para minha surpresa, no XXIV Fórum da Liberdade, estavam em pauta os já distantes Direitos Fundamentais de PRIMEIRA GERAÇÃO!!! Aqueles provenientes do Estado Gendarme, na aurora da Revolução Francesa: Século XVIII. Nem uma nova roupagem fora colocado no remanso tema que exalava um odor de mofo! Os interlocutores eram os já falecidos Adam Smith e Karl Marx!! Fiquei extremamente surpreso e até decepcionado!!
No texto abaixo transcrito a autora, Simone Schuck, teve a graça de citar este que voz fala ao lado do grande músico Lobão!

Maurício Esteves.

Nos dois primeiros dias da semana aconteceu o Fórum da Liberdade aqui em Porto Alegre. Esta que vos fala jamais tinha participado do evento e sabia muito pouco sobre o assunto. Não me arrependi de assistir. O sentimento vem com uma lista de poréns grande, mas é para isso que servem os blogs ou não.
No primeiro dia, confirmei minha admiração pelo Lobão e descobri a inteligência e a loucura de Peninha - e amei! Entretanto, não demorei muito para perceber que estava no século XXI, num evento de executivos pertencentes ao que minha amiga socialista chamaria de "neocapitalismo". Para eles, estavam lado a lado o socialismo, o comunismo e o nazismo. E nem é preciso estudar muito para saber que um desses nunca existiu e nunca vai existir: o comunismo é uma utopia.
Mas o mais engraçado foi ver as mentes esclarecidas e os bolsos fartos culpando "o Estado" por todos os problemas econômicos que sofrem. Como não estou acostumada a conviver com esse pensamento, achei-me exagerada, talvez, eles até estivessem certos. Então deparei-me com um tweete: "Um tipo de anarquismo fundamentalista de direita rolou solto este ano no #FL2011" (Maurício Esteves). E era verdade.
As soluções para todo o tipo de problema (desde violência até má qualidade da TV aberta) era a auto-regulamentação do mercado, o fim do Estado. Depois, fiquei pensando: espera, quem queria acabar com o Estado não eram os comunistas? Os anarquistas, também? O que estamos vivendo hoje? Uma plutocracia? Algo como "normas de mercado, normas de vida". Algum Moisés de Wall Street vai nos apresentar nossos mandamentos ou dizer que eles não existem?
Sempre acreditei que o Estado - esse ente tão distante, tão divino aos olhos brasileiros - fosse... nós mesmos! Criar um Estado com leis, economia, etc. não foi uma maneira de o próprio ser humano se organizar politicamente e atingir o bem-comum (ainda que isso fique só na teoria por burrice humana)?
Por que apontar a culpa para "outra entidade" se o Estado é cada um o qual o constitui? É triste e absurdo, mas o brasileiro não tem consciência disso. Uma democracia direta jamais daria certo aqui, pois a ideia da representação funciona muito bem: Olha, eu voto em ti e tu trabalhas lá para mim, certo? E eu "nunca mais" preciso pensar nisso nos próximos quatro anos.
Ainda na abertura do evento, na falta do governador gaúcho Tarso Genro (PT), o vice-governador, Beto Grill (PSB) fez seu discurso. Foi ele proferir as primeiras palavras e eu notei que não iria prestar. Completamente de encontro aos pensamentos da plateia e, senti, até por uma certa provocação, o vice tentou ressuscitar o socialismo nas suas palavras de "um Estado forte e presente". E para fechar brilhantemente, iniciou uma propagandagem política barata como "o estado gaúcho estava em descaminho, agora vamos progredir" (em referência ao antigo governo do PSDB). Sinceramente, eu pouco importo-me com sua posição política pessoal e até "entendo" que ele tenha ficado ofendido com as palavras anteriores, mas daí usar seu discurso para revidar? Ora, ele estava ali como representante do estado do Rio Grande do Sul. Naquele momento ele representava todos os gaúchos, inclusive aqueles que não votaram nele e não concordam com sua posição. O resultado, que eu já previa, foi forte: vaias repetidas.
Até o final do evento tive outras surpresas. Os economistas americanos pareceram-me menos agressivos que os brasileiros e, por isso, mais inteligentes. Foi como se os empresários tupiniquins estivessem na puberdade política: sabe aqueles adolescentes sem grande noção de História, usando a camiseta do Che Guevara, completamente radicais? Então, era o mesmo, mas de direita. Houve a presença incrível de Marcelo Tas, inteligente, humilde, que agregou informações valiosíssimas inclusive para os executivos. Também, as piadas preconceituosas de Madureira (que também sofreram vaias para libertar-nos dos temas antiquados e sem-graça!).
Aliás, o Fórum teve muito disso: gostou, aplaude. Não gostou, vaia. Simples assim. Metade do tempo que permaneci no centro de eventos, escutei uma manifestação da plateia. Interessante por um lado, no sentido de uma plateia não-submissa, expressando seus sentimentos. Mas um tanto infantil, no sentido de não saber guardar para si sua maneira de ver as coisas. Senti-me entre os botões de curtir do Facebook.
No final, minha lição ficou com a sabedoria de vida, sem política ou economia de João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão:


Liberdade política é não se rotular. E viva ao "roquenrou"!

TEXTO POR @

Nenhum comentário:

Postar um comentário